E para celebrar a chegada da "idade do lobo" do maior festival de todos os tempos, nosso repórter se mandou pra Bethel, NY. Fomos ver como anda a vida na pacata cidadezinha mais famosa (?) do mundo.
Bobbi e Nick Ercoline (não me pergunte quem é um e quem é o outro) em foto-símbolo do festival.
- Por Jack Rotten
Nossa história se inicia no pequeno condado de Nova York, mais precisamente em Bethel, ao norte da grande cidade-maçã (e bem longe da Radio Shack da Madison Avenue, que vende tudo baratinho e com nota bem abaixo do preço). Fazer o quê? Trabalho é trabalho, voltamos depois...
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Chego ao nosso destino por volta do meio-dia. Aparentemente, trata-se de mais uma pequena cidade americana do interior, com mulheres gordas aos montes.
Mal começo minha reportagem e, logo de cara (no bom sentido), aquela velha máxima de que 'o primeiro festival a gente nunca esquece' é sumariamente desmentida pelo hippie sexagenário à minha frente: "Se você se lembra de Woodstock é porque, certamente, não esteve lá, dude!" - peroliza o grisalho cabeludo, mostrando extrema lucidez e uma lógica tão torta quanto bacana.
Woodstock está para o Rock dos anos 70 assim como a criação do Sambódromo está para a Beija-Flor de Joãozinho Trinta. Difícil pensar num sem o outro.
Hoje trasformado em ícone do design gráfico, este era o poster oficial da bagunça. A mensagem foi tão bem sucedida, que compareceram 450.000 pessoas a mais do que o esperado.
Foi no longínquo ano de 69, nos dias 14, 15 e 16 de Agosto, que milhares de pessoas, na sua maioria, jovens integrantes do movimento
flower-power (o poder da flor, que bizarro!) se reuniram aqui, em uma fazenda de leite, em Bethel,
upstate de Nova York, para ouvir os maiores artistas de uma geração tocando um atrás do outro em um palco tão simples que até o do Canecão é melhor.
O som só chegava pro pessoal das quatro primeiras filas, então, o resto da galera (praticamente todo mundo, na verdade) resolveu que
ia tomar todas - isso pra não perder a viagem. Tanto a que levava até lá, depois dos três dias de Kombi, quanto a outra que levava pra bem longe, claro.
A partir daí, liberou geral o consumo de maconha, haxixe, ácido e também muito LSD. A coisa pegou fogo (em todos os sentidos) e virou um grande ninguém-é-de-ninguém, o que certamente esclarece e justifica o grande número de americanos chamados Wood, hoje na casa dos 40 anos.
Momento símbolo da pluralidade do festival: desconfoto de uns, êxtase de outros. Não precisa ser gênio pra entender o porque das caretas ao redor deste hippão. Nascia a idéia de que "se não é hippie, então é careta".Passaram pela histórica fazenda, os grandes mitos da música rock'n'roll, como Santana, Greatful Dead e Cheech and Chong. Gente que estava começando, como a elsalvadorenha Joan Baez, também foi elevada à categoria de
cult. E quem já vinha no embalo se estragando como o Hendrix e a Janis Joplin... bem, esses se estragaram de vez (a menina Janis precisou de muita ajuda pra entrar no palco e o outro terminou a apresentação tacando fogo na guitarra).
Jimmy Hendrix, aliás, virou um dos maiores ícones daquele get-together lisérgico-rural e é clássica a imagem do revolucionário guitarrista afro-descendente, solando em transe o hino dos Estados Unidos. Isso em plena ofensiva americana na guerra do Vietnã. Vale mil palavras - procure no youtube, porque eu não vou escrever tanto assim.
Hoje, a cidadezinha do Woodstock é quase uma Saquarema, com bastante gente normal e uns malucos tipo Sergei aqui e ali. Sua economia sobrevive de merchandise e, também, de gorgetas que os velhinhos hippies recebem em cada esquina. É gente que chegou em 69, naquele histórico fim de semana, e (óbvio que isso iria acontecer) se esqueceu de voltar pra casa.
Não parece, mas eles estão prestes a se tornarem órfãos. Esse carinho todo é puro LSD, não se enganem.Descobri também, uma geração mais nova de
woodstockers que fizeram a vida ali, depois de se perderem dos pais, muito doidos, durante o festival. Meninos e meninas, hoje trabalhadores, que começaram a vida em Bethel, literalmente na lama e sem nem a roupa do corpo! Deixados pra trás como uns Moglis do movimento hippie, eles venceram o frio, a fome e a música
country e hoje são todos garçons de muito sucesso.
Sempre atenciosos e educados - como pude constatar durante o almoço da nossa equipe - eles só perdem o sorriso quando dobram uma esquina e encontram um velhinho com seu violão cantando Foxy Lady, Mercedes Benz, e outras pérolas do cancioneiro
peace and love.
É mais que um choque de gerações - é trauma mesmo.
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Após esse encontro, já certo de que havia feito meu melhor trabalho investigativo e conseguido material suficiente para uma excelente reportagem, dispensei a tradicional visita ao museu de Woodstock (óbvio demais) e parti pra farra, ou melhor, pra Radio Shack.
Eu estava "absurdamente equivocado" (nas palavras de meu editor-chefe) e, hoje, estou em situação bastante delicada aqui na redação do Rockinho. Portanto, agradeço imensamente à todos que postarem comentários de apoio ao meu jornalismo.
Ps.A quem interessar possa, estou com dois Iphones a preços bastante módicos. Tem Playstation 3 também.
(JR)
Como forma de retribuir o carinho do povo local, e gerar renda para a comunidade, comprei esse tênis-merchan super cheguei. Tá se usando muito...***